quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Abertos do Interior: no futebol feminino, Kurdana/Cotia é prata com sabor de ouro

Mandando na partida o tempo todo, sendo prejudicada e saindo com o gosto do ouro. A Kurdana/Cotia ficou com o vice-campeonato no futebol feminino livre dos 75º Jogos Abertos do Interior (Segunda Divisão), disputados em Mogi das Cruzes.

Na terça-feira (15), feriado da Proclamação da República, a equipe cotiana perdeu nos pênaltis para Botucatu por 4 a 3, após o 1 a 1 no tempo normal e prorrogação. O jogo ocorreu no enlameado campo do CER Socorro.

E há muito o que comemorar. A Kurdana chegou à sua terceira final no campo adulto em 2011, disputando exatamente três competições: além da prata nos Abertos, ficou em segundo na Copa Futebol Mulher e foi ouro nos Jogos Regionais de Santo André (Segunda Divisão também). E, fora o fato da decisão inédita na Olimpíada Caipira, Cotia saiu invicta da competição, com três vitórias e dois empates. Vários pontos positivos após dez anos de trabalho competitivo na modalidade, comandada por Andressa de Azevedo.

Mais uma vez, choveu forte em Mogi desde a noite anterior. O local contava com várias poças d'água e muito barro. A zagueira Fran estava suspensa pelo acúmulo de cartões. Ainda assim, a sensação cotiana era de confiança, com a equipe motivada em busca do ouro.

No primeiro tempo, dentro do campo barrento, nenhuma das equipes conseguiu criar chances. Quase não houve emoções na metade inicial - exceto por um escanteio que Botucatu finalizou para fora nos descontos.

No segundo tempo, Mar Selly foi substituída, sentindo dores nas pernas, entrando Lorraine. A Cabecinha Dourada veio afim de aprontar, pois queria o ouro no peito também. Ela invadiu a grande área, dividiu com a goleira e levou a pior. Pênalti!

Quer dizer, não houve tanto o que comemorar. Lorraine saiu do jogo nesse lance, indo direto para o hospital, com suspeita de lesão ligamentar. Para piorar, a arbitragem sequer deu cartão amarelo para a goleira - última jogadora no lance.

Já que nem tudo é perfeito, vamos fazer um gol. E Aline Lum, a estrela maior de Cotia cobrou, sem dar chances para a goleira de Botucatu. 1 a 0 na contagem.

Na sequência do jogo, muitas faltas foram marcadas contra a Kurdana. Parecia realmente haver má-intenção. Mesmo assim, as cotianas impunham ritmo no jogo e lutavam bravamente contra o campo sem condições.

Com o jogo aparentemente perdido, a defesa de Botucatu chutava para frente, com a intenção de encontrar a marcação da Kurdana desarrumada. Numa dessas tentativas, duas atacantes adversárias saíram frente-a-frente com a goleira Márcia. Chutando tudo e todas que encontraram à frente, incluindo Márcia e a lateral Tati (que tentou salvar o lance), as interioranas conseguiram colocar a bola na rede. Nada da árbitra ou da auxiliar assinalarem falta na arqueira ou na ala. Parecia que o trio se acovardava diante da camisa azul botucatuense.

Houve discussão com a árbitra. Somente depois disso, ela pediu atendimento para Márcia que ficou imóvel no chão, com o braço inchado da pancada que sofreu. Em tempo: o placar passou a ser 1 a 1 após tais desmandos.

A igualdade levou à prorrogação, e nada de mais gols. A única chance expressiva foi de Cotia, quando Aline Lum partiu para cima das adversárias pelo lado esquerdo do campo, invadiu a área e foi derrubada. Pênalti? Jamais, na visão da arbitragem, prejudicando claramente a camisa rubra da Kurdana.

Permanecendo a igualdade, vamos aos pênaltis. Tudo o que podia, já tinha sido doado. Agora era o sobre-esforço... e uma dose de sorte também. Mas, internautas, o que aconteceu passou do absurdo. Só para começar, tinha tanta água na marca do pênalti que ninguém sabia o local certo para colocar a bola.

Aline Lum foi a primeira a bater e marcou. Botucatu perdeu a chance. Banana foi para a cobrança e a bola não saiu da poça! Acreditem. Era tanta água e lama que a pelota parou pouco depois do local determinado.

Continuemos. Botucatu empatou. Susana foi para o bate e fez 2-1. Veio as iguais em dois. Wendy foi para a cobrança e mandou na trave. As adversárias passaram na frente. Arine empatou e, depois, o feitiço virou contra a feiticeira: bola na poça. Seria engraçado, se não fosse a partida do ano para todas ali, desejosas por glorificar uma temporada de trabalho no futebol. Parece que não se pode elogiar os Abertos do Interior - a organização sempre comete uma gafe histórica por modalidade. E as coisas estavam indo tão bem em Mogi...

Ah, ainda falamos do futebol. Desculpem. 3 a 3 e pênaltis alternados. Márcia foi para a cobrança pela Kurdana. Pela terceira vez na disputa, a redonda ficou na poça. Botucatu foi para a batida. Se fizesse, era ouro. Eis que sua jogadora tirou a bola da poça! E a árbitra não permitiu que Cotia fizesse o mesmo antes. Adiantou reclamar? Claro que não! E, em condições melhores para bater, chute e gol do título. 4 a 3.

Entre a chateação pelo ocorrido e a cabeça erguida após uma participação invicta nos Abertos, a técnica Andressa desabafou: "Pior do que enfrentar uma grande equipe, o campo horrível e a chuva forte, é vencer a má intenção do trio de arbitragem".

O que fundamenta mais ainda a reclamação de Sessa, como é conhecida a treinadora, foi algo observado no tento do 1 a 1: "Os diretores de Botucatu nos disseram que estavam em dúvida se comemoravam o gol ou se tinham vergonha da arbitragem. Eles mesmos não concordaram com o benefício dado à sua equipe. Todos aqui sabem o quanto é difícil trabalhar com o futebol feminino e seu pouco apoio, e sabem que isso não engrandece a modalidade".

Confiando sempre nas suas comandadas, encontrou palavras para elevar o feito da equipe. "Não vou entrar mais em discussão, para não parecer desculpa de perdedor. E a última coisa que fomos e somos é perdedoras. Nós estamos orgulhosas da nossa equipe. Tudo o que aconteceu hoje e nestes Abertos nos fortalece para continuar nossa luta. Em 2012, com a participação no Paulista de campo, seremos uma equipe ainda mais forte", aposta a técnica, dona de um amor raro pelo futebol e futsal feminino.