segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Estadual Principal: pela primeira vez na história, Kurdana/Cotia vai para a final


Momento histórico para o futsal feminino de Cotia. A equipe da Kurdana, que representa a cidade, se classificou pela primeira vez para a final do Estadual Paulista Principal. No último sábado (11), venceu a tradicional Sabesp/São Bernardo por 7 a 4, no Ginásio Municipal de Cotia.

Na ida, em São Bernardo do Campo, as equipes haviam empatado em 2 a 2, de modo que o vencedor de sábado se classificaria. As cotianas lutarão pelo terceiro título no ano - que será, sem dúvida, o mais importante de sua história.

Na decisão, a Kurdana/Cotia irá encarar ao Jaguaré/Palmeiras/Osasco, em duas partidas. Os dias, horários e locais ainda não são conhecidos, mas o sediamento do segundo jogo, pela melhor campanha, é do adversário. O Verdão se classificou para a final na sexta, em Osasco. Venceu o São Caetano/Corinthians, no tempo normal, por 4 a 2, e empatou na prorrogação, em 0 a 0, levando vantagem pelo melhor desempenho na competição.

* Locais se impõem na primeira etapa


Cotia entrou disposta à fazer história. Encarando um respeitável adversário - nada menos que o clube com maior número de títulos na modalidade - foi para cima, contando com jogadas pelas alas e pelo meio.

Logo aos três minutos, o primeiro gol das mandantes, com Susana. A Sabesp reagiu, empatando no minuto seguinte com a sempre perigosa Silvana. Com tranquilidade, a Kurdana voltou à dianteira. Mostrando o seu instinto de matadora, Susana fez 2 a 1, aos cinco minutos, alegrando aos torcedores presentes.

Mas as bernardenses não queriam facilitar. Aos seis, a capitã Julye igualou o placar. Hora de retomar a paciência, especialmente no toque de bola. E se a capitã adversária marcou, por que não um gol da capitã de Cotia? Priscila, com 13 minutos jogados, colocou a bola no fundo das redes, em lance pela direita.

E a pequena 10 de Cotia não estava para brincadeiras. Poucos segundos depois, Priscila recebeu praticamente na linha do gol, disputou com a defesa e fez o quarto de Cotia. Classificação mais perto.

A Sabesp pôs Silvana de goleira-linha. Aproveitando a tática, Lum bateu de sua área, por cobertura, e fez 5 a 2 para a Kurdana, aos 18 minutos - placar levado para o intervalo.

* Visitantes crescem, mas Márcia garante classificação


Apesar da diferença boa na contagem, Cotia veio para o segundo tempo buscando mais gols. Aos dois minutos, Camila Gadeia interceptou bola com o braço e cometeu pênalti, levando amarelo. Lum foi para a cobrança e não perdoou, batendo alto para vencer a goleira Magda.

Envolvente no ataque e firme na defesa, a Kurdana chegou ao sétimo gol. Com seis minutos, Lum fez o seu terceiro na partida, anotando um hat trick. A talentosa cotiana chegou aos 22 tentos na competição, ficando à apenas quatro da artilheira Tita, de Taboão.

O placar de 7 a 2 parecia bem seguro. Porém, não custa lembrar que a Sabesp merece respeito. As visitantes cresceram na partida e voltaram a usar Silvana como goleira-linha. Aos sete, Camila Gadeia descontou, batendo cruzado pela direita. Pouco depois, Silvana recebeu amarelo. Cinco minutos mais tarde, pela esquerda, Camila fez seu segundo gol.


A sabedoria do futsal manda segurar-se na defesa. Nessa hora, a Kurdana pôde contar com uma grande goleira. Márcia fez uma série de defesas difíceis. Usou mãos, pés e até o rosto para evitar que a Sabesp se aproximasse mais no placar. Tanto que foi eleita melhor em quadra.

Os minutos se passaram e veio o apito final. Comemoração das mulheres de Cotia, felizes por fazerem história para a cidade. Contudo, elas querem mais e lutarão qual leoas pelo principal título do futsal feminino paulista.

A Kurdana iniciou o jogo com Márcia, Arine, Lum, Priscila e Susana. Entraram: Wendy, Karina, Tiko, Banana, Neguinha e Luana.

* Dínamo de Kiev está servindo de inspiração


Quem foi ao jogo de sábado, notou algo diferente na camisa da Kurdana: uma faixa diagonal na frente, escrito "Dínamo de Kiev - FC Start". Muitos se perguntaram o porquê de tal inscrição no uniforme.

A fixa Arine explicou: "Fizemos isso porque a história desse clube da Ucrânia nos serviu de inspiração para a fase final do Estadual". Uma bela história, diga-se de passagem, que prova que o futebol é mais que o jogo.

Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Kiev, capital da Ucrânia (na época, um país-membro da União Soviética), foi ocupada pela Alemanha. Destruída e completamente controlada pelos nazistas, teve até o seu time de futebol de campo, o Dínamo, extinto e proibido.

Foi quando um padeiro alemão, à quem os nazistas não perseguiam, deu abrigo aos jogadores do então clandestino clube em sua padaria. Em 1941, formaram o FC Start, que nada mais era do que uma forma de resistência.

No ano seguinte, o FC Start começou a jogar. Após cinco vitórias sobre equipes militares, os nazistas resolveram trazer o seu melhor time, Flakelf, da força aérea, para derrotar aos ucranianos. Era 06 de agosto, e a equipe da padaria nem tomou conhecimento: 5 a 1.

Uma revanche foi marcada para três dias depois. O FC Start terminou o primeiro tempo ganhando de 2 a 1. No intervalo, oficiais nazistas foram ao vestiário, armados, ameaçando os jogadores ucranianos de morte, caso vencessem.

O FC Start não temeu. Preferiu a morte do que entregar o jogo. Vitória por 5 a 3. No fim da partida, o atacante Klimenko driblou o goleiro alemão; quando chegou na linha do gol, virou-se e chutou a bola para o meio do campo. Um lindo ato de desprezo e humilhação aos invasores, digno de invejar à qualquer craque.

Ainda naquele mês, o Start jogou mais uma partida, vencendo por 8 a 0. Era a última, pois os nazistas invadiram a padaria, torturando e matando todos - executando por fuzilamento. Inclusive, um deles morreu usando a camisa do time. Apenas dois jogadores escaparam.

Kiev foi libertada em 1943 e o FC Start foi considerado um exemplo de resistência. Tanto que, até hoje, todo o time é considerado herói da Ucrânia e a sua história é ensinada nas escolas daquele país.

O Dínamo saiu da clandestinidade e passou a ser o principal time da Ucrânia e da União Soviética. Tornou-se o maior campeão da história da Liga Soviética e, atualmente, é o maior vencedor da Liga Ucraniana. Além disso, possui duas Recopas Europeias. Mais que os títulos, a sua história serve de inspiração - não é à toa que as cotianas, em 2010, tantos anos depois, se alimentam dela para buscar a sua maior conquista.